terça-feira, 31 de maio de 2016

Alice Através do Espelho: voltando no tempo sem razão.

Não era surpresa que as adaptações da Disney as vezes pecam por querem descaracterizar demais a obra original, transformando vilãs em mocinhas (como a Rainha da Neve e Malévola) ou inventando algo completamente diferente. No caso de Alice foi um pouco de acerto: contavam com o apelo de Tim Burton na direção e seu consolidado solo de fãs, que sempre estará disposto a querer apreciar as obras de visual estranho, excêntrico,  e único do diretor. Fora seus trunfos como Depp e Bohan Carter. Apesar de não ter nada a ver com o livro, o primeiro filme trás uma formula que não importa em que historia seja empregada dará certo: A jornada do herói tão retratada em Star Wars, Senhor dos Anéis e em vários clássicos da Disney como  O Rei Leão. Na primeira aventura havia uma ameaça certa e Alice tinha que se aventurar naquele novo mundo que havia esquecido. E nesse tipo de trama transformar os personagens mais humanos em "guerreiros lutando pra derrubar uma tirana" deu certo. Ok, batido, meio óbvio, mas deu certo.
Agora nessa segunda adaptação, e continuação as coisas viram do avesso.
Apesar de Mia Wasikowska evoluir na sua interpretação como Alice sua personagem não tem mais nenhuma surpresa. Ainda enfrenta o machismo de sua época mas em Underland pra ela nada há de novo. Aquele mundo pra ela virou algo até casual. E é aqui onde acho que o filme peca: Cade a ameaça?

Por não haver uma ameaça concreta Alice se joga numa aventura pelo motivo mais banal e comum, fazer seu amigo Tarrant sorrir de novo: Nobre porém fraco. Neste ponto somos apresentados ao chapeleiro que não lembra em nada o Tarrant do primeiro filme. É caracteristica do personagem ser exagerado, com ele não há meio termo, ou ele esta feliz ou triste demais. Só que esqueceram um ponto muito importante dele:
A raiva. Tarrant de repente cai em "depressão" por se lembrar que tem pais perdidos, e ao invés de sair em busca deles, fica em casa se lamentando pelos outros não acreditarem nele. Cade aquele chapeleiro capaz de ir pra uma guerra pra derrubar um reinado tirano? Aquele personagem enigmático mas cheio de atitude? Não, aqui ele só lamenta e chora. Fora que a maquiagem dessa vez ficou falsa demais devido a fotografia do filme, que contrasta com tudo, mas com o rosto de Depp briga o deixando as vezes incomodo de se olhar.  Mas algo que nunca foi explicado foi a aparência dele se comparado com a da família, porque ele é o único que fica daquele jeito, pálido e cheio de cores? Quiseram amenizar o contraste que Tim Burton deu no primeiro filme mas aqueles filtros combinavam, agora Depp poderia muito bem ter feito esse personagem de cara mais limpa que ia funcionar. O primeiro chapeleiro é um membro de uma resistência, cuja raiva  o motiva a fazer qualquer coisa, apesar da loucura. Lembra em alguma coisa o depressivo e incomodo Tarrant que só sabe ficar chorando?
Foi legal ver todos pequenos, mas a viajem no tempo poderia ser bem mais resumida (ou nem existir, Alice poderia ter descoberto onde os pais de Tarrant estavam de qualquer outra maneira). Era só ir perguntar a Iracebeth por exemplo se ela sabia de algo.  A motivação da protagonista apesar de nobre é meio fraca pra sustentar o roteiro, tinha que ter um algo a mais pra não ficar apenas com o chapeleiro sendo razão de tudo.. O filme se desenrola com o objetivo de salvar a família de Tarrant porém não há em nenhum momento uma verdadeira ameaça. (Só uma sucessão de eventos que por acaso fariam Underland ser destruída) O Tempo de Sasha apesar de muito convincente e excelente, não atua como vilão de peso, as vezes persegue Alice em alguns momentos, logo a trama se resume a uma historia básica, cujo único objetivo é passar lições (boas) sobre o tempo. E só. Quando vi os trailers  pensei que o tempo seria um vilão, que fez o chapeleiro ficar doente e Alice teria que impedi-lo de fazer isso. E nessa meia trama a rainha vermelha faria algo pra tomar o poder e reinar sobre  Underland novamente, (não só fazer Mirana pedir desculpas). E Alice teria que tomar uma decisão difícil entre salvar o clã da cartola ou derrotar a rainha vermelha, enfim jogar a protagonista num dilema.
No mais, a  trama apela pro sentimentalismo de dramas familiares, que serviriam bem como plano de fundo, mas não como principal  e esquece de nos dar aquele algo a mais na motivação de cada personagem. Alice não precisava viajar no tempo pra resolver uma questão tão simples. Seria o caso da viagem ser uma ultima opção, não a primeira. 
Só que querendo ou não a disney conseguiu de novo, o marketing empenhado levou as pessoas ao cinema. Afinal o primeiro filme teve uma aprovação razoável, mas esse segundo pecou no que diz respeito a trama. 
As vezes querer mudar demais, faz acontecer essas coisas. Não adianta nada mudar as cores e efeitos especiais se a trama não convence.